quarta-feira, 28 de maio de 2014

Aquela rendinha que se coloca em cima dos telhados

Se existe algo que me dá imenso prazer é chamar as coisas pelo seu nome correto. Um dia, viajando por alguma aldeia remota de Portugal, quis referir-me a um detalhe da arquitetura local e fiquei atarantada: "Como é que se chama mesmo aquela rendinha que se coloca por cima dos telhados?"

Bem, virei motivo de chacota, como podem imaginar. Para quê alguém iria querer saber isso?! Riam-se os meus amigos e diziam: chama-se "aquela-rendinha-que-se-coloca-em-cima-dos-telhados", oras! Óbvio!


A verdade é que ninguém sabia. E vejo dessas rendinhas em muitos países diferentes, em muitos tipos de habitação ou prédios públicos. Há delas em terracota - o mesmo material que fazem as telhas,


ou em ferro forjado.  Dão um charme todo especial à construção e servem não só como ornamento no alto do telhado ou de uma torre, como também podem servir de proteção numa cobertura. 

Já sabem do que eu estou falando, não?
Ornamento em ferro.

Fico sempre imaginando quem seria a alma sensível capaz de pensar numa tal riqueza de detalhes...

Ornamento em ferro.

Suíça, Alemanha, Portugal, França, Itália, EUA, Espanha,... e até mesmo no Brasil. Quem nunca teve a surpresa de descobrir lá no alto a delicadeza de um rendilhado?



Nas catedrais, palácios, mosteiros... lá estão novamente os tais motivos moldados no barro ou numa gradezinha forjada no ferro... 

Ornamento em cerâmica   
Pois após 13 anos de muitas perguntas e pesquisa, cheguei finalmente ao nome: (já adivinharam?!)


E para quem acha que eu ando a ver coisas que ninguém vê, vou postar agora uma amostra de que me lembrei bem aí pertinho e provavelmente a primeira vez que me encantei com esses desenhos na cumeeira de um edifício:

Igreja São Domingos - Uberaba - ornamentos do telhado em cerâmica

Sim, a Igreja São Domingos em Uberaba possui esses elementos decorativos no telhado. Vão me dizer que nunca tinham visto?! Ampliem bem a imagem e verão até mesmo que está necessitando restauro...

Pois é, afinal, "aquela rendinha que se coloca em cima dos telhados" tem nome e eu vou partilhar aqui com vocês: chamam-se  as cristas da cumeeira do telhado. Cristas! Como é que eu não pensei nisso antes?! Parece mesmo uma crista! Pronto. Agora eu nunca mais me esqueço o nome (e espero que vocês também não) e já posso dormir sossegada depois de 13 anos de dúvidas. (Não imaginam o meu alívio!). E agora eu me pergunto: como foi que pudemos sobreviver até aqui sem saber o nome das cristas da cumeeira?!

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Ora, abóbora!


Abóbora na decoração? Este post trata simplesmente do quanto uma abóbora pode ser um excelente meio de expressão plástica, muito além do Halloween. Duvida? Então veja comigo:
Há na Suíça muitas fazendas interessantes que disponibilizam sua produção para venda direta ao público. 

Nelas se pode comprar desde laticínios, legumes e frutas, até lã de carneiro, vinho e flores. Cada uma vende o que produz. Há muitos incentivos para que o público da cidade aprenda a valorizar a vida no campo.


Esta que mostro nas postagens se chama Juckerfarm, fica próximo de Seegräben e possui outras unidades no país. Há nela, uma clara vocação para despertar nas crianças o interesse pela vida em contato com a terra. 
Ali as crianças brincam, podem alimentar os animais, deitam em redes amarradas nas árvores, rolam pelo feno construindo esconderijos, sobem em tratores, colhem frutas, assam elas mesmas salsichas num espeto improvisado de madeira, e podem comer um rico cardápio oferecido por uma cozinha que trabalha apenas com a produção local. Tudo cultivado biologicamente.
Por isso mesmo, os temas giram em torno das temporadas: há a época das cerejas, do morango, dos aspargos, ... e claro, agora é a época das abóboras. 

A decoração do ambiente no momento está toda voltada para estas delícias, e não resisti em partilhar com vocês as múltiplas possibilidades que eles descobriram para utilizá-las. 
Não é uma maravilha?! E este é um material que temos em abundância no Brasil. Com montes de qualidades diferentes e espécies as mais diversas. Nem preciso lembrar que nossa culinária é muito rica no aproveitamento dos vários tipos de abóboras. Muito mais do que na Europa.

Todas estas imagens eu fotografei na Juckerfarm. Guilherme Tell, figuras de Reis, cavaleiros, sapos que viram príncipes, abelhas fabricando o mel...  tudo serve de inspiração!







E claro, as caras cortadas e recortadas tão típicas do Halloween. 



Também pode-se ver uma exposição dos maiores exemplares produzidos naquele ano. Já houve ano que fizeram um barco cavando o interior de uma gigantesca abóbora e atravessaram o lago que aparece ao fundo da foto. Isso mesmo: um homem remando de dentro de uma enorme abóbora conseguiu realizar essa façanha!
E sabe por que a Juckerfarm é um sucesso total? Porque aqui os adultos se divertem, os mais idosos, os bebês, as crianças... para todos há interesses diversos. E boa comida, sem dúvida. Come-se bem, sabendo-se o que se está consumindo. Pode-se estar o dia inteiro a bater papo com os amigos e fazendo novas amizades. Aprendendo mais sobre o contato com a terra, que há muito tempo estamos perdendo aos poucos. 
Ah! Também pode-se aprender mais sobre o que produzem, porque em cada espécie vem indicado a melhor maneira de consumo (se melhor para assar em forno, cozinhar, fazer sopa, doce ou acompanhar carnes...) e a melhor maneira de conservá-la. Veja o caso desta abóbora azul, por exemplo.  Hummm... tem um bouquet adocicado de castanhas assadas!  Não resisti: tive que levar uma para experimentar fazer aquela nossa receita brasileiríssima de Camarão na Moranga! E você? Inspirou-se para decorar ou para cozinhar?


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

DIY - Faça um Hotel de Insetos para o seu Jardim.

Como eu havia prometido, hoje vou dar-lhes dicas de como fazer seu próprio hotel para insetos.
Há vídeos muito interessantes na internet mostrando a melhor maneira de construí-los. Desde os mais simples


 até outros mais elaborados.  



Alguns podem parecer muito rebuscados, mas depois de assistir aos vídeos acima clicando nos links indicados, fica fácil perceber como são feitos. 


Alguns requerem mais destreza com as ferramentas de marcenaria, mas mesmo nunca tendo feito trabalhos assim antes, você conseguirá executá-los, porque o passo a passo é bem fácil de entender. 


Ah! Se você é um educador infantil, que tal pensar num trabalho de conscientização da criançada, ajudando-lhes a refletir sobre a importância do equilíbrio ecológico e ao mesmo tempo treinar suas habilidades de coordenação enquanto dão asas à criatividade construindo seus próprios hotéizinhos para insetos? Não é uma boa ideia?! 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Hotel para Insetos

A primeira vez que vi um Hotel para Insetos exposto para venda numa loja, fiquei pensando que o mundo estava cheio de gente maluca. Mas depois fui ler mais sobre o assunto, e acabei por achar que a ideia realmente faz muito sentido. Veja se você concorda:
Hotel para insetos numa vitrine em Stein am Rhein - Suíça.

Parece que pouca gente se dá conta de que a nossa mania de querer exterminar alguns bichinhos que são chatos de conviver no nosso dia a dia (moscas, formigas, abelhas, etc), mexe com um equilíbrio muito importante na natureza. 
Hotel para insetos numa vitrine em Stein am Rhein - Suíça.

Esses pequenos "incômodos" fazem inclusive o controle de outras pragas nos nossos jardins. Sim, porque para qualquer espécie daninha de inseto, existe uma outra espécie predadora. Por exemplo, se vc tem uma linda avenca e ela está sendo atacada por pulgões, ao invés de colocar inseticida para matá-los, experimente colocar umas joaninhas para passear por ali: elas são as predadoras naturais desses insetos. Assim, além das suas avencas ficarem maravilhosas novamente, ainda vão estar decoradas com coloridas joaninhas. Não é interessante?!

Espaços destinados a cada grupo de insetos num hotel.

Então foi daí que surgiu essa ideia, que nem é assim tão maluca quanto pensávamos. À medida que fomos usando meios pouco naturais de expulsar esses pequenos seres do nosso convívio, fomos percebendo que apesar de lindos, nossos pomares davam poucas frutas (sim, os insetos têm a importante função de polinizar as plantas, principalmente as vespas, abelhas, besouros, moscas, mariposas e as borboletas).  

Se o cruzamento das espécies de plantas se dá principalmente através do transporte do pólem (80%) pelos insetos (além dos pássaros e outros animais), ao erradicarmos os insetos de uma densa floresta, ela fatalmente morrerá. O mesmo ocorrerá com o nosso jardim, horta ou  pomar. 

Quer um pomar com frutas abundantes? Mantenha uma colmeia por perto, ou um "Albergue para as Abelhas", "Pensão do Zangão", ou "Pousada da Abelha Rainha"! (Dá para imaginar um monte de nomes engraçados e sugestivos, não?) As abelhas podem aumentar a produtividade de plantas cultivadas em até 500%! Nada menos que 2/3 da alimentação humana depende, direta ou indiretamente da polinização por insetos.


Por aqui já perceberam a impotância deste equilíbrio natural, e é por isso que começam a surgir por todo lado estes pequenos hotéis de insetos para venda, nos mais inimagináveis trabalhos artesanais, e até arquitetos de verdade têm-se dedicado ao tema. Veja este exemplo, em Paris:

Hotel para insetos dos arquitetos e designers Vaulot e Dyèvre, numa praça do 13° Arrondissement em Paris.

Além de resolver um problema contemporâneo, estes hotéizinhos podem ser uma graça a mais a ser instalada no jardim. Há tantas possibilidades criativas para se construir algo assim...



Sem contar que despertamos a curiosidade das crianças e aproveitamos para dar uma aula de respeito à natureza, conhecimento e interação com o mundo à nossa volta. E aí não há limites para favorecer estas visitas importantes: dá para pensar não só nos insetos, mas também nos pássaros:


Sim, porque outro papel dos insetos está relacionado à sua função intermediária na cadeia alimentar como lixeiros que comem seres em decomposição (lembrem-se que as larvas são filhas de insetos), jardineiros que podam e controlam a superpopulação de plantas, etc, assim como são  comidos por outros animais, principalmente répteis e pássaros. Ou você nunca pensou em trocar um destes comedouros de pássaros



por um outro destes? Ou ter os dois, por que não?

Mas por favor, coloque no nome algo menos mórbido e enganador: coloque logo "Restaurante dos pássaros" - (Insetos, vocês foram avisados!). Ou "Hotel e Restaurante Equilíbrio Natural".

Eu queria terminar este post com um PAP (passo a passo) ou um DIY (Do it Yourself), como queiram, mas já estou a me alongar demais. Então fica aqui prometido que no próximo post eu vou dar dicas de como construir seu próprio Hotel para Insetos. Vale a pena construir o seu, você verá. 

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Inspiração


Na semana passada fui a uma exposição que está patente no Museu Bellerive de Zurique que me deixou extremamente inspirada! Adoro quando os promotores de um evento  percebem a diferença entre animação e ação cultural e, ao invés de meramente expor algo, envolvem o público completamente no tema apresentado. De tal modo que você sai de lá com mil ideias novas, pensando nas muitas correlações apresentadas e fazendo mil outras que agora só você é capaz. Aquela sensação de mal poder chegar ao atelier para recomeçar a trabalhar freneticamente! Tem algo melhor?!
A exposição era sobre o trabalho de Alphonse Mucha (1860-1939), artista tcheco que ajudou a imortalizar a imagem de Sarah Bernhardt na Paris efervescente do início do século XX e se tornou num fenômeno do movimento Art Nouveau.
Alphonse Mucha
O trabalho do artista é realmente uma maravilha e poder ver de perto seus originais, estudos, gravuras impressas na época e seu processo de criação realmente foi uma aula de arte sem precedentes.
Alphonse Mucha

Lá estavam os muitos trabalhos gráficos que realizou para diferentes tipos de produto: latas de biscoitos finos, propaganda de papel para cigarro, cartazes de teatro, caixas de sabonete, Carta de vinhos de restaurantes, rótulos de Champagne, bicicletas...

 
Alphonse Mucha

    
Alphonse Mucha     

No entanto, o Museu foi um pouco mais além e apresentou uma mostra de pôsteres, cartazes de espetáculos e capas de discos, em diferentes lugares do mundo e dos mais diversos autores, todos inspirados na obra de Mucha. Outra aula interessantíssima de artes gráficas!

Não bastasse isso, ainda propôs uma viagem pelas revistas de Mangá, para mostrar as referências que os desenhistas atuais vão buscar na sua arte. Também ali no museu ficava uma sala especial com mesas, computadores, vídeos, montes de revistas de Mangá para manusear,  e materiais de desenho para quem se animasse a fazer seus próprios desenhos baseados no estilo do artista.
"Manga",  Caz Lock   

 
           Shoujo Mangá

Art nouveau no Mangá  

 
    Kohime Ohse



Ilustração de Calendário Art Nouveau- 2006,  Chkuyomi      

  

E quando já não se esperava mais nada, o museu ainda falava do flirt existente com o universo da tatuagem e propunha que pessoas entrassem no site para mostrar ou compartilhar suas tatoos relacionadas com o tema.
Uau! Outro universo tentador se revelando perante nossos olhos! 

 
                                   Tatuagens que referenciam a arte de Mucha
                     

Para você que já andava se esquecendo do quanto a arte pode ser divertida, termino este post com o trabalho da artista Hannah Alexander, que é louca por Mucha e se apropria dos personagens das princesas Disney para nos encantar com a a mesma estética criada pelo artista no início do século passado. Confira:


"Innocence" - Hannah Alexander