segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Um passarinho é muito ou é pouco?

_Mãe, e um passarinho? Um passarinho é muito ou é pouco?

(Rebobina, rebobina... volta a fita! Onde está o elo perdido?)

Diante desta pergunta surpreendente da minha filha, vasculhei nossas últimas conversas para tentar descobrir de onde ela tirara essa pergunta, tão aparentemente sem pé nem cabeça.

Lembrei-me que uma semana antes andávamos de carro quando ela deu um grito estarrecedor do banco de trás. Pensei que algo grave tinha acontecido e, aflita, perguntei-lhe o que tinha sucedido.

_ A minha fita arrebentou! (mostrava-me os braços desnudos).

Ela referia-se à fitinha do Sr. do Bonfim, que um dia, ao andarmos pelo pavilhão de eventos da Expo em Lisboa, uma mulher vestida de baiana de um stand brasileiro lhe ofereceu, dizendo-lhe que ela tinha direito a fazer um pedido. Carolina tinha apenas 1 ano de idade e eu fiquei imaginando como é que eu lhe explicava bem explicadinho o que aquilo significava. Mas a verdade é que ela adorou! E sempre (até aos 4 e 5 anos) andou com uma em cada pulso - uma vermelha e uma laranja, que virava e mexia me perguntava o que mesmo ia acontecer quando elas arrebentassem. E ficava com os olhinhos sonhadores a imaginar desejos impossíveis.

Quando, aos 4 anos, quebrou o braço e teve que engessá-lo, ficou furiosa com a enfermeira que cortou a fita laranja com uma tesoura para poder realizar o trabalho. Ela chorava feito doida, não porque o braço doesse, mas porque ficara extremamente sentida com a enfermeira que excluíra assim, sem mais nem menos, sua grande oportunidade de realizar um pedido fantástico. Foi difícil consolá-la.

Na última semana, quando percebeu que a fita vermelha acabara por se romper naturalmente, ela deu o tal grito que ainda ecoa nos meus tímpanos.

_ Vai acontecer! O meu desejo vai acontecer!!! Sabe o que eu pedi, mamãe?

_ Não. O que foi?

_ Eu pedi para virar uma fada!!! Hummm....(Conferindo as costas) Mas parece que não está a resultar... (Chateada porque não percebia nenhum par de asas surgindo em suas costas).

_ Se calhar, filha, esse desejo foi muito grande para aquela fitinha tão pequenina... (já antevendo o chororô que prometia se arrastar pelas próximas horas). Confere melhor...

_ Hummm... então eu vou mudar: 'Eu quero ser uma sereia!!!!'

_ Ô, filha! Não tás a ver que esse negócio de sereias e fadas são magias muito difíceis de se realizarem? Uma fitinha tão pequenininha!... Como ela ia conseguir fazer asas, transformar pernas em rabo de peixe, dar poder e magia para ti?! Tens que pensar em coisas mais fáceis. Menos, Carolina. Menos.

Ariel, a pequena sereia. Carolina, 4 anos.

Pois... passara-se uma semana inteira, e aquela mentezinha a funcionar em segredo... eu já nem me lembrava dos desejos e da fita do Sr. do Bonfim...

De repente, aquela pergunta de chofre:

_ Mãe, e um passarinho? Um passarinho é muito ou é pouco?

Bom... nem precisa dizer que eu ainda estou rindo até agora... hehehehehe Adoro essa pureza e esse poder de acreditar que o mundo é mágico! Nos dias subsequentes ela ainda renegociaria o desejo, e da última vez já estávamos a analisar se uma formiga era muito ou pouco.

Parece-lhe pouco? hummmm.... pois você não imagina o tamanho do milagre que isso significaria para ela. Mas pensando bem, sua cabecinha já é tão poderosa que, se acontecer ou não acontecer, isso não vai alterar em nada sua fé na magia das coisas. Benza-a Deus!

Um comentário:

Rachel Paiva disse...

Bom... então se a Carochinha aparecer por aqui com fitinhas do Sr. do Bonfim até os ombros, melhor nem rir, né??? kkkkk